Sem tempo para lágrimas

Aquela bebida não era das melhores

Só que mesmo assim, sequei quase toda a garrafa. A música country que o coroa cantava, me fez viajar e lembrar daquelas estradas empoeiradas e sem fim, com muito verde nas laterais.

Meu rapaz estava comigo, olhava nos meus olhos enquanto secava a terceira latinha de cerveja. O shopping estava cheio, acho que vi um amor de infância, o qual nem deve me conhecer mais.

"Preciso ir ao banheiro. Já volto."
Enquanto ele estava no banheiro, o coroa começou a cantar olhando para mim, ele não tinha olhar maldoso, mas um olhar observador, como quem aguardasse algo prestes a acontecer.
Passaram-se 10, 15... Aos 20 minutos, tive vontade de olhar para trás em busca dele, me deparei com ele encostado em uma das colunas, agarrando uma outra mulher.

Olhei umas cinco vezes para confirmar que era ele mesmo e quando vi que realmente era, virei-me novamente, joguei a aliança no chão e pedi uma garrafa das minhas preferidas.

O cantor ainda me encarava e parecia estar surpreso com minha atitude.
Acho que chorei por dentro, mas por fora, não derramei nenhuma lágrima.
Minha música favorita tocou. Com a garrafa em uma das mãos, subi na mesa e dei meu melhor rebolado. Estava em êxtase... Uma amiga me reconheceu, me puxou para baixo, me chamou de louca e demos muitas risadas.
"Vamos para outro lugar."

A noite só havia começado. O pedaço de mim que aquele rapaz tinha nas mãos, se transformou em pele morta. Sem tempo para chorar, sem tempo para ensopar o travesseiro. Como deve ser.

- Juliane França.