O meu marido era muito grosso e não sabia conversar, além de já ter levantado a mão para mim.
Ele não gostava de sair comigo, parecia se envergonhar. Me cheirava como um cão sempre que eu voltava do trabalho, coitada de mim se sentasse ao lado de alguém de perfume muito forte, os meus olhos ficariam roxos.
Eu sempre tão cabisbaixa, o cabelo tão bagunçado e de olhos caídos, chamei a atenção de um homem de sorriso aberto, corpo atlético cabelos grisalhos e olhos pretos como jabuticaba. Nos primeiros dias, ele pegava o trem comigo e me olhava como se já me conhecesse, depois ele puxou conversa e, por mais inusitado e perigoso que fosse, os assuntos e a abordagem dele me deixaram a vontade, parecia que nos conhecíamos há anos.
Desde então, aquele homem fazia com que o cinza da minha vida fosse embora com aqueles cinco ou seis minutos de conversa.
Não era uma traição, ainda...
Com um tempo, trocamos números e do serviço, dávamos continuidade as conversas que foram ficando cada vez mais íntimas. Vivi com aquele homem tudo o que não vivi com homem nenhum. Marcamos de ir ao motel.
Naquele dia, meu coração disparou. O silêncio dentro do carro dele era ensurdecedor, algo de ruim estava para acontecer, mas não sabia o que era.
Chegando no quarto, vi que já estava ocupado.
Meu marido estava sentado de pernas cruzadas na beira da cama redonda, balançando os pés e rindo de uma forma tenebrosa.
"Você tá morta."
Olhei para o homem com esperança de sumir daquela situação, o homem foi para perto dele.
"Esse cara é um ator, o contratei para testar sua santidade. Você acha que ele iria mesmo olhar para você?"
Ele gargalhava em frente ao momento mas tenso da minha vida.
A culpa foi toda minha. Ou será que sou inocente? Eu deveria simplesmente me separar, mas tive medo dele. Será que sou uma vagabunda, ou sou só uma mulher medrosa?
Questões que irão me assombrar por toda a minha vida.
- Juliane França.