Meu nome é Rafael, não sei qual minha idade, perdoa por não saber... Acho que 46. Moro aqui nesse bairro a muito tempo...
As estradas são geladas a noite, as manhãs são tristes... Mas o dia é bom, o Sol me dá coragem para pedir emprego de porta em porta. Nunca consigo (risos com lágrimas). Também, quem vai me contratar com essa roupa rasgada e esse cheiro? Mas, não há tantas condições para outras roupas ou para tomar um banho, às vezes, passo semanas sem um banho e anos com a mesma roupa. Consigo no máximo o dinheiro para o almoço do dia: Um salgado e um copo de café ou suco, às vezes uma marmita com arroz e feijão, quando acontece fico muito feliz.
As pessoas não gostam quando como lá nos restaurantes. Então, por respeito me retiro e como na calçada.
As moças com aqueles saltos barulhentos e os rapazes de social daquela empresa ali (aponta para a empresa) me fazem questionar minha visibilidade.
Sempre que consigo, levo um pedaço de pão para meu amigo, o Fred. Um cãozinho que me ama, mesmo que eu não cheire bem e tenha a barba cheia de nós. Amo ele também, o amor da minha vida! Sempre fiz de tudo para fazer ele feliz, mas sei que quase nada tenho.
Nesse mundo não tenho valor, sou como fezes para as pessoas.
Oh, meu Deus!
Qual minha missão aqui? (Olha para o céu). Tenha misericórdia dessas pessoas. Como um dia teu filho disse:
"Eles não sabem o que fazem".
Talvez viver assim seja melhor; ser rejeitado por eles não é o fim. É o exato retrato do que não sou.
Porque se eles são os tais seres humanos, me chamar de ser humano é uma tamanha ofensa. (Morde um pedaço de pão puro e oferece ao Fred).
- Juliane França.