Merda de Vida!

Merda de cachorros!

Já não aguentava mais essas cadelas no cio que enchem a vila de filhotes. Os gemidos deles durante a noite e aquele circo de pulgas vindo em minha direção toda vez que saia para trabalhar.

Fora o choro chato do bebê da vizinha. Que inferno!

Meu trabalho mais parecia uma tortura, já estava cansada do cheiro de lá, dos mesmos rostos, do mesmo trajeto e do mesmo serviço todos os dias.

Chega de frescuras! Logo seria aniversário da minha mãe, mas e daí? No outro dia eu ia lá, ela nem enxerga mesmo, não iria me ver.

Um arrastão no trânsito e um disparo rápido fizeram com que meu dia de hoje fosse diferente. A morte quis se encontrar comigo e me deu uma bronca daquelas. Quando aquela bala perdida raspou minha cabeça, nada passava por minha mente além dos olhos cheios de esperança dos filhotes espalhados pela rua, será que eles sentiam frio a noite e por isso gemiam tanto?

Havia esquecido de quando o bebê da minha vizinha sorriu para mim e eu senti paz por uns segundos.

Estive de mal comigo mesma ao ponto de não ficar feliz com a promoção que acabei de ganhar no emprego, eu sempre duvidei de minha capacidade, mas cheguei lá! E sequer me abracei pela conquista.

O aniversário da minha mãe poderia ser o último. E por mais que ela não tivesse visão, ela conhece meu cheiro e sorri sempre que eu me aproximo.

Onde me perdi? Naquela hora, quis morrer por ter sido alguém tão horrível. Mas a morte só quis dar um sermão.

Consegui então enxergar o que jamais enxerguei diante dos meus olhos. Segui em frente e virei as costas para a morte, ela estacionou as mãos na cintura e prometeu ficar de olho em mim por toda a vida.

- Juliane França.

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