Que época gostosa...
No início do nosso casamento, não havia um dia sequer sem que um não se declarasse para o outro. Alan e eu gostávamos de viajar com nosso amigo de quatro patas: o Alf. Éramos como três crianças.
Ficávamos com as cabeças para fora do ônibus de viagem, mostrando a língua, imitando Alf. Rindo de coisas bobas e aleatórias.
Minha roupa se enchia de pelos. Alan tirava milhões de fotos. Mas sabe, eu não me importava com as fotos ou com os pelos, minha prioridade era viver aqueles momentos ao máximo. O cheiro de mato misturado com o cheiro do mar era o cheiro da felicidade.
O meu mundo estava ali. Dentre aquelas brincadeiras infantis, em meio à nossas receitas que, raramente davam certo...
Alf infelizmente faleceu com alguns anos. Foi uma das perdas mais dolorosas de nossas vidas.
Mas superamos, tínhamos que seguir a vida.
O cheiro de grama e mar permanecia delicioso, mas as brincadeiras entre nós eram menos animadas. Alf fez e faz muita falta... A saudade dói quase que fisicamente.
Decidimos que teríamos um bebê. As nossas viagens teriam aquela magia novamente, com certeza. Já imaginava uma princesa ou um príncipe saindo de meu ventre, pronto para receber todo o amor do universo.
Depois de muitas tentativas falhas, fomos ao médico entender o motivo de eu nunca engravidar, então descobri que sou infértil. Foi a terceira maior tristeza da minha vida. Eu não iria poder gerar uma vida, nem teria o prazer de ver um rostinho com o meu nariz. Isso me destroçou de dentro pra fora. Alan ficou sem saber o que dizer, sabendo ele o quão aquilo era importante para o surgimento de um pouco de luz na nossa vida.
Nosso tempo fechou. Não éramos mais tão alegres assim, brigávamos constantemente, cheguei até me sentir insuficiente para ele. Até que tivemos a ideia de adotar uma criança.
Com algum tempo de correrias, conseguimos a guarda de Maurício, de sete anos. Ele não tinha meu nariz e nem os olhos azuis de Alan, mais iria sorrir nosso sorriso, e fazer nossa vida ganhar cor... E que cor linda!
Por falar em cor, o quarto dele é bem colorido, pintamos juntos e nos sujamos de tinta como três eternas crianças.
Três eternas crianças... Os tempos de criança haviam voltado, o meu mundo estava ali, novamente.
- Juliane França.