E bem aqui, com uma conta quase vencida, nessa fila sem nenhuma cobertura da caixa econômica, presenciei uma criança birrenta largando a mão da mãe, gritando tanto, fazendo parecer que sua garganta iria saltar da boca:
"Quando eu crescer, vou poder ir onde eu quiser!"
Achei aquilo ridículo e de modo automático, julguei a mãe, por dar tal liberdade para que o menino gritasse com ela em público. Em segundos, voltei atrás e lembrei de que tive uma personalidade idêntica à daquele menino quando criança.
O meu sonho era crescer e ir onde ninguém queria me levar. Escolher minhas próprias roupas. Comer na hora que eu quisesse. Ter privacidade. Ter amigas e amigos sem que meus pais investigassem a vida deles antes de eu poder acompanhá-los até a próxima esquina. E sempre foi assim, lutando pela minha liberdade, lutando para sair das mãos dos meus pais.
Mas na verdade fui muito ingênua. Desperdicei os momentos mais doces do mundo.
Ainda lembro do cheiro do sabonete que minha mãe usava para me dar banho, e se eu puxar o nariz, posso sentir. Ainda lembro do gosto do macarrão com salsicha que eu comia quando voltava da escola, e lamento muito por nunca mais comer macarrão com salsicha com aquele mesmo sabor.
Lembro dos falhos planos de fuga que fiz com meus amigos do pré. Dos desenhos animados que já não tenho mais tempo para assistir. Lembro da minha amiga imaginária e de quando eu contava para o meu pai que tinha muitos amigos, mas não tinha mais que dois.
E de repente, a liberdade chegou num piscar de olhos. Meus pais me soltaram e confesso que me perco muitas vezes todos os dias. Muita ignorância, hipocrisia, falta de amor e apoio...
Porque, acredite, quando se deixa de ser criança, podemos chorar a vontade... Ninguém vai lá tirar a dor. Você pode chorar até cansar, cair e espernear. A partir de agora é você contra o mundo.
Ser adulto não é uma conquista, é uma consequência.
- Juliane França