Minha mãe era uma verdadeira máquina de fazer crianças.
Teve eu e mais oito. Eu, a segunda mais velha, tive que suportar todo o peso de responsabilidades. Nossa irmã mais velha, de quinze anos, foi morar com um rapaz.
Meus irmãos eram de pais diferentes. Nunca conheci meu pai.
Sinto que ela me teve pra criar os outros meninos, então me tornei mãe solteira aos treze anos de idade. Mãe de meus irmãos.
E ela não parava em casa. Às vezes, via alguns sujeitos dando bolos de dinheiro pra ela (sério, bolos).
Esse dinheiro não era gasto em casa, sempre comíamos salsicha e arroz, às vezes tinha batatas, mas só às vezes. O dinheiro era gasto nela. Saltos caros, vestidos, brincos grandes, batons... Falar em batons, esses dias fui pega por ela, experimentando um, levei uma surra.
"Isso não é seu, Thalia!"
"Me desculpa."
E lá ia eu, lavar a louça e cuidar dos meninos que, não davam sossego.
Em uma noite de sábado, ouvi gemidos do quarto dela e sabia que, provavelmente, outro bebê viria para a coleção de irmãos sem mãe. Aos treze anos, eu sabia quando estavam fazendo sexo, pois ela teve um namorado o qual falava abertamente sobre o assunto, pra todos da casa ouvirem.
Estava difícil, eu não tinha muito tempo para estudar, faltava muito no colégio e já tinha a cara de acabada.
Aos dezessete, Juan surgiu, doce e prestativo. Colega da escola que se declarou pra mim. Me tratava como uma princesa, me dava a atenção que ninguém nunca me deu.
Juan me despiu em nossa terceira semana de namoro e tirou minha virgindade. Juan foi meu primeiro homem.
O que era preservativo? Eu jamais saberia. Ninguém nunca chegou para me aconselhar sobre como usar. Juan também não deveria saber.
Juan me engravidou. Seria mais um bebê, só que originalmente de minhas entranhas. Eu já estava tão acostumada em criar bebês, que só sabia sentir medo da hora do parto.
Acreditei fielmente que minha mãe fosse ficar feliz em ter um neto, em ter alguém que gostasse de mim. Mas ao anunciar minha gravidez, levei um belo soco na cara.
"Sua vagabunda, como pode fazer isso? Você virou puta!"
Quase perdi meu filho. Mas meu bebê era mais forte que o desconforto de minhas emoções negativas. E com aquela gravidez e aquele tapa, descobri que minha mãe precisava urgentemente de um espelho.
(Fictício)
- Juliane França