"Por favor! Bate em mim! Deixa ela em paz!"
Eu bem sabia... Era a Cláudia implorando para o marido socar a cara dela ao invés de vê-lo tentando abusar da sua filha de 7 anos. Todos nós vizinhos ouvíamos ele gritando, furioso, sobre o fato de a menina não ser filha dele.
Todos nós vizinhos sabíamos que o marido de Cláudia gostava de bater na cara, pois o raro era ver seus olhos normais. Todos nós sabíamos que aquela criança não iria crescer com o psicológico saudável. Todos nós ficávamos nas janelas, a fim de ouvir mais nitidamente cada briga, cada grito, cada choro e cada pancada que Cláudia levava.
"Deixa minha mãe em paz, Marcos! Eu estou aqui."
"Eu estou aqui."
Que diabos aquela menina queria dizer?
"Abusa de mim e deixa minha mãe em paz."
"Me mata e tira as mãos da minha mãe."
Era uma morrendo pela outra quase todos os dias. Mas aos finais de semana, os três saiam como uma família normal. E essas saídas de domingo faziam todos nós vizinhos esquecer do inferno de todas as semanas, apesar de tudo recomeçar a partir da madrugada se segunda-feira.
Na terça-feira passada as brigas passaram do limite. Conseguimos ouvir Marcos abusando da criança. Cláudia chorava de uma forma medonha. Não me peçam para descrever o som.
Tomamos a iniciativa de "meter a colher" dessa vez. Meu marido arrombou a porta e para a nossa surpresa, o casal achou ruim e nos expulsaram, como dois cães raivosos.
Aquele inferno era deles. Ninguém tinha nada com aquilo. Era a vida deles. Cláudia estava confortável sendo abusada junto à sua filha. Marcos estava confortável mantendo duas pessoas desesperadas dentro de casa. Estavam todos acostumados.
Mas como vizinhos "entrões" que somos, metemos a colher, e antes que a revolta fizesse com que a gente metesse a faca, chamamos a polícia.
Em briga de marido e mulher, metemos a colher sim. Salvamos vidas e evitamos tragédias.
- Juliane França