Nossa, que pesadelo nojento!
Sonhei que acordava como uma criança. Minhas mãos eram pequenas e meus pés ainda eram bonitinhos. Meus pensamentos eram sobre desenhos animados, ou aquela dúvida gostosa sobre o que minha mãe havia feito no almoço. Por falar em minha mãe, ela não aparecia.
Ah, e eu não era um homem, eu era uma garotinha. Ainda tomava mingau na mamadeira, mas não queria que meus colegas do colégio soubessem. Lembro também da alegria de quando abria minha lancheira e haviam bisnaguinhas e iogurte.
Houve um momento em que eu estava no recreio, correndo com outras crianças e, de repente, o caseiro da escola me chamou, disse que tinha um presente para mim:
"O que é?"
Ele sorria e dizia para mim ter calma, eu não conseguia entender o motivo dele colocar as mãos por dentro da minha calcinha:
"Eu não fiz cocô e xixi ainda."
Ele não dava bola para nada que eu dissesse, tampou minha boca pequena, abaixou minha calcinha e entrou dentro de mim.
Pude sentir aquilo tocando meus órgãos internos e rasgando minha vagina.
Em um momento consegui escapar, corri ainda de calcinha abaixada e sangrando. O pessoal da escola ficou apavorado e, na semana seguinte, o caseiro já não estava mais lá.
Todos me trataram muito bem. Minha mãe, apesar de tremer e chorar muito, tentava me passar uma tranquilidade que jamais existiu.
Passaram-se anos e ainda doía, o suor dele ainda parecia pingar nas minhas costas e todos que me chamavam enquanto eu estivesse distraída, se arrependiam de chamar, pois eu entrava em pânico.
Quando acordei, agradeci por ser apenas um sonho e percebi que dormi em cima dos papéis da aula que estava preparando para minhas jovens alunas de Ed. Física. O computador estava em um site de vídeos pornográficos com meninas muito novas e, na outra aba, estava o meu Facebook aberto... No perfil de uma de minhas alunas, a qual me fez pesquisar os tais vídeos.
"Não, eu não posso fazer isso. Eu não sou esse mostro! Eu não sou como aquele caseiro, eu sou uma boa pessoa!"
Tarde demais, o telefone tocou, era a diretora da escola, convocando para uma reunião urgente junto à Daniela e os pais dela.
"Um maníaco sempre deixa rastros e, há coisas piores que a morte" - disse o pai de Daniela.
Eu queria pedir desculpas, mas me calei, porque sei que nada que eu fizesse no mundo, iria trazer a inocência da filha dele de volta.
- Juliane França.