Gostaria de esquecer tudo que houve semana passada, gostaria de não ter visto aquelas mensagens pornográficas e descoberto da forma mais suja, que estava matando meu tempo com ele. Nesses últimos dias só soube chorar, as pessoas sumiram e pra ser bem sincera, não tive vontade de procurá-las. Isso dói tanto...
Ele nunca foi sentimental, sempre foi direto e reto, mas você sabe, né? A gente não escolhe quem ama.
Resolvi espairecer, por um milagre.
Nessa última tarde de domingo tomando um sorvete à toa, a brisa que alertava chuva passageira me ajudou arrumar a bagunça que se encontrava em minha mente.
Conceitos e idéias em seus devidos lugares, alguns pouco mais trabalhosos insistiram em ficar bagunçados ("fica aí então"). Consegui fazer a faxina naquele domingo, sozinha sem mais companhias que não fossem eu mesma; naqueles 20 minutos estava independente dele, e parecia que podia voar.
Quando o primeiro pingo gelado e grosso caiu em meu braço, senti que era a hora de me entregar.
Gosto tanto da casquinha do sorvete, mas aquela chuva caiu para me lavar... Eu não ia ignorar uma gota. Larguei tudo e tomei o banho mais extraordinário da minha vida. O vestido não deu conta de cobrir meu corpo, eu sorria com a alma. Nua e pura como um bebê que viu anjos. A chuva aumentava, os outros corriam como loucos para um canto coberto e eu não me importaria de ficar ali até que a última gota caísse. Mistura de água e lágrimas causadas por uma emoção antes desconhecida.
Mamilo pra fora, maquiagem borrada, cabelo escorrido e um frio que me abraçou como o melhor amigo que eu poderia ter naquele instante. Que delícia, que pureza.
De olhos fechados e sorriso aberto sinto alguém ajeitando meu vestido, rapidamente abro meus olhos e todo o fardo retorna com loucura para mim.
- Venha, Clarice. Vamos para casa.
Juliane França.