Duas meninas recém formadas na faculdade de medicina veterinária concorreram juntas à um estágio em uma clínica, no centro da cidade.
A primeira menina era rebelde, sempre quis fazer algo relacionado a medicina, por conta do salário. Filha de pais ricos, que bancaram os mais caros estudos do país para a sua formação. Ela estava crente na posse da vaga, pois possuía um currículo maravilhoso e conhecimentos essenciais, que iam além dos requisitos exigidos.
A segunda menina tinha a medicina veterinária como paixão, desde criança, quando brincava de curar seus gatinhos. Participou do Enem seis vezes para conseguir finalmente cursar em uma instituição popular. Ela tentou conversar com a primeira menina que fingiu não ouvir seu "oi".
Seu currículo era bom, na média das exigências da vaga.
A entrevistadora era até gentil, ela também cuidava dos animais. Levou mais ou menos meia hora conversando em particular com cada menina. E por fim, contratou a primeira menina, com o currículo turbinado.
Quando a entrevistadora acompanhou as duas meninas até a saída da clínica, estavam chegando uma cliente e um cachorro muito debilitado, com a uma parte da orelha saindo bichinhos.
A primeira menina se esquivou e disse:
"Nossa, que nojo! Coitado." - E foi embora, pronta para começar a trabalhar na próxima segunda-feira.
Já a segunda menina, pediu licença para a dona, acariciou o cão, que estava tremendo e se ofereceu para terminar, junto à entrevistadora, o expediente, fazendo algum curativo no animal.
"Não precisa" - disse a entrevistadora, sem graça.
"Mas é claro que precisa! Ela já precisa pegar experiência porque vai fazer muito disso aqui." - disse o chefe da entrevistadora, que saía de de seu escritório, para pegar um café.
"Mas não selecionei ela, Sr. Luiz. Foi uma outra menina."
"E aonde ela está agora?"
Houve um clima de silêncio por alguns segundos. A entrevistadora não sabia o que dizer...
"A outra menina se formou na melhor faculdade do país, Sr. Luiz. Isso é muito importante."
E então seu chefe sorriu e balançou a cabeça negativamente:
"Minha querida, importante mesmo é um profissional que gosta do que faz. Importante mesmo é a tal da pró-atividade... Isso aqui - apontou para a menina com o cãozinho no colo - é mais importante que certificações em faculdades de nome."
Então, a entrevistadora teve que inventar uma desculpa para impossibilitar a vaga para a menina que escolheu, dando a mesma para a menina que havia descartado.
E desde aí, a primeira menina tem passado na calçada da clínica, cheia de bolsas e amigas, dizendo em alto e bom tom:
"Essa clínica é muito fundo de quintal, nem os cachorros de rua merecem ficar aí."
Que bom que Sr. Luiz salvou a clínica, ou então seria mesmo uma clínica temida até mesmo pelos animais de rua.
- Juliane França.