Pude vê-lo quando era um bebê, morava ao lado de minha casa e mesmo que sempre tenha achado ele uma gracinha, nunca tive coragem de pedir à vizinha para pegá-lo no colo, pois ela falava com minha mãe, mas parecia não ir muito com minha cara.
Eu sempre fui gordinha na juventude, mas com o passar dos anos, emagreci. Os cabelos longos que antes eram sempre presos, tornaram-se curtos e sempre soltos. Particularmente, acreditei estar na melhor forma, e estava...
O bebê Jhon cresceu e como esperado, ficou lindo. Corpo malhado, glúteos bem redondinhos (risos) e olhos cor de mel, além da voz grossa demais para sua idade. Ele tinha dezesseis para dezessete anos quando o observei melhor.
Aos dezessete, retirou o aparelho dentário e ficou ainda mais lindo, o sorriso era estonteante e iluminado. Ainda sim, não havia nada demais, era apenas o bebê que vi crescer e que se tornou um menino bonito. Certo dia, ele passou por mim com uma loira e disse:
"Oi, tudo bem?"
Rapidamente respondi. Fiquei nervosa, mas não deveria, pois a cidade era muito pequena e todos se falavam normalmente.
Eu fui casada dos vinte e um até quase trinta. Não tivemos filhos, pois sempre fiz questão de me prevenir ao máximo para não engravidar daquele homem que, além de não ter sequer onde cair morto (vivíamos na casa de minha mãe), já levantou a mão para mim, e ao ameaçar minha mãe quando ela se pôs em minha frente para que ele não me batesse, expulsei-o de casa, com nojo e desgosto dos anos que perdi.
Durante aquele tempo, passei a presenciar Jhon levando algumas meninas em sua casa, meninas que aparentavam serem mais novas que ele. Ele não era do tipo que durava muito com uma só.
Naquela época eu estava sozinha... Aos trinta e dois anos, perdi minha mãe para um infarto fulminante, bem de repente... Não gosto muito de falar sobre o ocorrido, pois não o superei e nem creio que irei superar. Foi doloroso, como uma lâmina afiada escorregando por todo o meu corpo, por dentro e por fora.
A casa onde morávamos é o local o qual vivi boa parte da minha vida e tomo conta, como um templo. Passei a morar só. De início foi torturante, mas aos poucos me reergui o suficiente para tentar viver novamente.
Quando Jhon fez dezenove, fui convidada à sua festa de aniversário. Era um churrasco regado à bebidas, na garagem mesmo, bem informal.
Coloquei meu vestido mais lindo, me perfumei e passei maquiagem o suficiente para não aparecerem as rugas, (admito que estava com intenções diferentes com Jhon, haviam noites as quais sonhava com ele em situações 'relaxantes'). Quando compareci, ele me recebeu como uma grande amiga, o estranho é que ele nunca havia conversado nada comigo além do "oi, tudo bem?". Fiquei feliz, mas mesmo assim, quieta em meu canto.
A festa durou até tarde, confesso que fiquei até o final para pegar aquelas famosas sobras de final de festa (risos), sempre amei bolos, salgados, fora que seria um dia a menos para cozinhar tarde da noite. Fiquei o tempo todo mexendo em meu celular enquanto o pagode rolava, até que quando me dei conta, a música acabou e Jhon estava sentado do meu lado, quando levantei a cabeça, a visão de que já havia terminado há tempos era explícita. É indescritível a vergonha que fiquei, já fui me levantando para ir embora, quando ele me puxou pelo braço e me ofereceu uma vasilha generosa (estava bem pesada).
"Não vai levar uns salgados, Su?"
Aceitei, provavelmente vermelha como um tomate. Agradeci gentilmente e antes que eu pedisse desculpas por sequer notar o término da festa, Jhon me puxou pela cintura e me deu um beijo. Me surpreendi como o rapaz o qual vi quando bebê beijava tão melhor que homens muito mais velhos que conheci durante minha vida.
Me soltei de suas mãos precisas e fui embora sem nada mais dizer. Não fui embora porque não gostei e sim com medo da mãe dele ver tudo aquilo.
Quando cheguei em casa, obtive imaginação o suficiente para ver dentre meus pensamentos não tão limpos, aquela boquinha por todo o meu corpo. Antes que eu me despisse por completo, avistei Jhon em minha janela, pedindo para entrar. Demorei uns cinco minutos para abrir, mas quando abri, foram abertas as portas para meu paraíso entrar.
"Você é meu presente de aniversário"
Eu poderia me sentir um objeto quando ele disse aquilo, mas desejei ser para ele, seu presente de aniversário, e fui. Jamais esquecerei daquela noite a qual vimos a lua se mostrar e o sol dar sinais de que acordou. Minha casa era pequena, minha cama fazia barulhos e haviam muitas roupas bagunçadas em cima da poltrona que se uniformizou com a cama, que se tornou mais bagunçada que nunca.
Eu poderia dizer que foi só uma noite de muito prazer, mas não foi. Eu me apaixonei por aquele garoto, ele felizmente correspondeu.
Eu e Jhon hoje moramos juntos em um apartamento que compramos, longe da cidade que jamais nos apoiou. A casa de minha mãe está alugada.
Levei os mais nojentos nomes de pessoas com quem eu mantinha amizades saudáveis. É difícil andar normalmente em um shopping, ir para um hotel ou um restaurante, sem que as pessoas cochichem sobre nós. É difícil. Mas jamais pensamos em desistir.
Jhon diz ter orgulho de me ter como sua mulher e amante, já que suas exs não eram tão maduras. Somos felizes se nos vermos em um mundo onde não há comentários maldosos. Somos felizes se não nos importamos com ninguém.
Deixa pensarem que sou a mãe ou a tia dele, deixa pensarem que ele está comigo porque tenho dinheiro, deixa pensarem que eu banco ele. Deixa!
Ele era um recém-nascido quando eu tinha 20 anos, mas e daí? O que importa é o sentimento que brotou daquela noite sem juízo. O que importa é a maturidade que Jhon teve ao me assumir como sua mulher depois de uma noite de loucuras e quebras de limites, sem me julgar... Coisa que muitos homens mais velhos não conseguem fazer.
De que adianta ficar com alguém da mesma idade sem que a pessoa possa suprir suas carências, vontades e desejos? De que adianta ficar com alguém da mesma idade só porque as pessoas querem assim?
Problema é deles se por acaso desistissem de algo por conta do que a maioria fala, mas, eu não sou assim, jamais serei. E por ironia da vida, em nossos momentos íntimos, é de "meu bebê" que o chamo.
- Juliane França.