Foi quando nos vemos que rolou um tesão a primeira vista. Desejo ao primeiro olhar. Vontade de nos beijar assim, sem nem nos conhecermos direito. E mesmo com com todos os contras, mesmo quando nossas condições fazia de nós dois criminosos, não nos resistimos.
No começo nem conversávamos direito, pois o sexo nos supria. Mas tudo mudou quando ele me chamou para ver um filme que ele amava no cinema. Estranhei.
"Público? Sem sexo? Sem privacidade?"
Ele riu e disse que nem tudo é sexo.
Por incrível que pareça, não fizemos sexo no cinema. Vemos o filme até o fim, discutimos o final, demos risadas. Abraçados como um casal de namorados.
Aquele dia entrou em contradição com o resto de todos os nossos dias... Mais tarde fomos à um hotel caindo aos pedaços. Não tinha hidromassagem nem nada dessas frescuras, e o pior é que nem transamos. Pior ainda é que não sentimos falta do sexo.
Nosso relacionamento estava ficando mais forte aos poucos e quando menos esperava, eu estava completamente apaixonada por ele.
Ele me trazia chocolates, me fazia massagens, me fazia rir... Quando antes só nos fazíamos gozar.
E então nos deixamos envolver. Ele beijava meus seios como quem aprecia uma obra de arte. Eu admirava seus olhos loucos me olhando e me sorrindo.
Quando a esposa dele dormia, trocávamos mensagens até um de nós dormir. Eu me sentia tão culpada e tão sozinha, mas continuei.
Continuei até em uma das mensagens, ouvir a voz da esposa dele. Não chingando, não gritando, mas lamentando por deixar ele sair de casa e me passar uma doença degenerativa.
Ela contou que não podia sair da cama e nem da vida dele. Ela tinha dificuldades para falar, como se algo estivesse a impedindo. Haviam barulhos de chaves e correntes por detrás da voz dela.
"Você não sabe onde se meteu."
Fiquei em pânico, mas fingi não ter ouvido nada quando ele e eu nos encontramos.
Fomos para um motel em que íamos frequentemente e, pela primeira vez na nossa história, ele não chegou me beijando ou tirando a camisa.
"Sei que conversou com aquela vagabunda. Ela é louca! Você acredita nela?"
Ele estava alterado, os olhos estavam lacrimejando e o corpo suava mais que o normal.
Ele jogou na cama exames da esposa, cartas e remédios de tarja preta.
Quando esbocei um passo em direção à porta, ele me pegou pelo braço com uma força surreal. Me implorou para não deixá-lo sozinho e contou que a esposa era sua cruz.
Não sabia em quem acreditar! A mulher parecia tão debilitada. Ele parecia tão... Desesperado.
Em alguns segundos de insanidade, ele livrou a cama de todos os papéis da esposa com uma mão só, me jogou na cama e me beijou.
Fechei os olhos e acordei acorrentada num quarto monótono, cheio de rabiscos nas paredes.
A esposa dele não estava presa, como imaginei. Estava preparando algo na cozinha.
E ele me olhava como quem quisesse rir, cínico.
Meus pulsos ardiam. O que mais me matava era a curiosidade de saber quem era o louco de tudo aquilo.
Ele parecia tão verdadeiro, tão tranquilo... Assim como a esposa parecia ocupada e bem sucedida, além do sorriso sempre presente em todas as fotos.
Ainda estou aqui, perdida. Sem saber o que houve comigo. Não tenho privacidade para fazer minhas necessidades. Só tomei uma sopa horrível e ambos parecem reféns um do outro.
- Juliane França