Archive for 2017-03-19

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Luiz sempre vivia a vida com a maior intensidade possível. Em algumas partes, isso era bom; imagine fazer de um simples passeio no parque, um dia memorável? Luiz transformava momentos simples em momentos únicos. Mas por outro lado, não era tão bom assim... Luiz mergulhou de cabeça em um relacionamento a distância, sem nada mais saber sobre Julia, além do que ela contava.

Luiz e Julia tinham um namoro saudável, gostoso e tranquilo. Se conheceram em um site de relacionamentos, na sala "amizade"... A amizade acabou se transformando em algo mais intenso, intenso como Luiz.

O que Luiz tinha de intenso, Julia tinha de engraçada. Eram dias inteiros de gargalhadas contínuas via Skype. O pessoal da casa de ambos demorou para acostumar, mas acostumaram; após muitos conselhos e apostas negativas, afirmando que aquilo jamais daria certo. Mas é claro que os dois não se importavam.

Julia e Luiz já haviam se encontrado uma vez. Foram ao cinema e, nada demais aconteceu além de uns beijos envergonhados. Julia tinha um segredo que poderia mudar todo aquele relacionamento, ou até mesmo causar o fim dele.

Mas esse segredo teve um fim, no segundo encontro, quando ambos sentiram vontade de um programa mais íntimo.
Enquanto Luiz tirava suas vestes com pressa, Julia travou e não conseguiu sequer colocar a bolsa no cabide:

"O que foi, Julia? Não está preparada?"
E então Julia sentou-se ao seu lado na cama e revelou que ela não era o que ele imaginou que ela fosse. Luiz então a ignorou, achou que fosse mais uma de suas brincadeiras, beijou sua boca e quando ele a tocou, sentiu nela um órgão masculino:
"O que é isso?"
"É o que eu queria te contar."

Luiz, por sua vez, agiu como um homem. Abraçou Julia e a beijou na testa. Julia ficou surpresa e ao tentar pedir desculpas, Luiz a beijou na boca, dando início à uma relação selvagem e até então, para Luiz, inimaginável.
Mas Luiz gostou, ele gostou muito!

Luiz nunca havia se relacionado com pessoas desse gênero, havia se descoberto um pouco mais naquele motel. Mas até hoje, ele se pergunta:
"Será que sou bi? Ou a amo demais para ignorar seu corpo?"

Luiz também tem um segredo o qual ainda não contou para ninguém. No primeiro encontro, em meio aos beijos envergonhados, ele percebeu o órgão de Julia, mas ignorou.

- Juliane França.

Minha bronquite atacou brutalmente.

Eu jamais esperei que aquela doença crônica a qual eu tinha todo o controle fosse dar sinais justo quando eu não tive recursos para me ajudar.

A voz quase não saia, então não deu para ninguém me ouvir. Eu estava perdendo a força nas pernas e o pulmão estava cansando de buscar ar que não chegava. Tudo ficou longe e logo após, tudo se apagou.

Acordei num hospital, o primeiro rosto que vi ao abrir os olhos foi da minha tia que, parecia estar muito abatida. Ela vibrou de alegria quando acordei. Eu tentava dizer algo, mas não conseguia.
Mais tarde, a minha família inteira estava naquele quarto, com exceção da minha mãe. Meus olhos estavam abertos e captando tudo, porém, minha voz não saia. Ah! Como eu tentei falar... Mas com movimentos furiosos e, provavelmente, com a minha mudança de expressão, o médico pediu para que eu ficasse relaxada.

Eu estava relaxada como nunca, o corpo estava intensamente cansado. Dormi.
Quando acordei, estava dentro de uma caixa de madeira escura e apertada. Não havia como respirar, mas me dei conta de que eu não precisava.
"Socorro! Eu quero sair daqui!"
Mas tudo que eu dizia era inútil. Ninguém iria ouvir meu maior grito e, eu não transpirava e nem sentia meu coração acelerado pelo nervosismo. Eu estava morta.

Eu não quis acreditar naquilo, mas tive que me conformar, entre a tristeza que, apesar de intensa, não me permitia chorar.
Logo algo me levou para fora do caixão. Foi quando pude ver minha lápide, cheia de flores lindas que nunca vi na vida. Flores de todas as cores e formatos.
Depois de sair do encanto das flores que jamais recebi quando viva, notei que minha mãe estava em frente à minha lápide, chorando muito e pedindo perdão por nunca sequer ter me ligado em nenhum de meus aniversários.

Ah, mãe. Por que não disse tudo isso antes de eu partir? Por que teve de esperar por isso para chorar ou se importar?

Desculpa, mãe. Mas agora é tarde demais.

- Juliane França.

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