A Praga





Confesso que sempre fui infiel. Eu sou uma praga.
Minha resistência à carne sempre foi baixíssima. Por mais que tentasse, nunca consegui controlar. Incontrolável como a luta contra as pálpebras se fechando após 3 dias sem dormir. Sempre me cuidei e tinha um corpo atlético quando mais jovem. Quando mais velho, mantive o corpo e meu cabelo grisalho serviu de acessório para atrair ainda mais mulheres, principalmente mulheres mais novas.
Dentre essas mulheres conheci Vanessa, uma moça linda, 9 anos mais nova e muitos anos madura que eu. Além dos cabelos longos e lindos, sua personalidade me fez sentir algo a mais que atração sexual de sempre. Foi com Vanessa que me casei. Tivemos 2 lindos filhos e tínhamos uma vida gostosa, cheia de carinho, viagens e muita, mas muita 'pimenta'.
Nessa época, trabalhávamos muito e quase não nos víamos. Mas em nossas folgas, era festa.
Em um almoço de sexta-feira no trabalho, uma mulher sentou-se na minha mesa e conversou comigo de forma descontraída, como se já nos conhecêssemos há anos. Fiquei sem entender, mas sempre fui muito comunicativo e a conversa fluiu. Conversamos de tudo, tudo mesmo.
Na segunda-feira ela veio novamente, e na terça, e na quarta, e na quinta... Seu nome era Marie. Ela era lindíssima, os lábios eram perfeitamente desenhados, seios fartos acariciados por seus cabelos loiros, olhos verdes e voz de mulher decidida.
Nos tornamos amigos, era incrível a ideia de conversar todos os dias na pausa do trabalho com uma mulher linda, como se fosse minha amiga de infância, nunca faltou assunto.
Naquela mesma semana, na sexta-feira, Marie me chamou para sair e disse que queria sexo mesmo, sem papas na língua. Fiquei sem saber o que responder e ela disse que não precisava responder. Me passou o endereço e o horário, saiu da mesa logo em seguida.
Mas é claro que eu não estava pensando em ir, não era mais um solteiro livre, mas um homem casado com mulher e filhos.
Ao chegar em casa, Vanessa deixou um bilhete dizendo que não chegaria no sábado, pois trabalhava organizando casamentos e era muito corrido. Dormi sozinho.
No outro dia, liguei o carro para pegar meus filhos que já iriam ficar com minha sogra, mas a maldita tentação me puxou para trás, para pegar o bilhete de Marie com o tal endereço.
Lutei contra aquilo, mas fui vencido. Decidi ir até o endereço.
A rua era muito movimentada e bonita, haviam crianças brincando e alguns idosos caminhando.
Marie me recebeu muito bem. Era uma casa linda e muito organizada.
Ela estava irresistível, fui com sede ao pote, mas ela me negou com cara de malícia... Fiquei ainda mais instigado. Ela me levou até seu quarto e me jogou na cama com precisão, no momento em que abri minha calça, vi a fotografia de uma menina no quarto que me chamou atenção.
"Sua filha?"
Ela balançou a cabeça que não e respondeu:
"Nossa filha, Juan."
Fiquei pouco assustado e ela sem se importar, veio para cima de mim.
Ela me beijou e logo após me arranhou, fingi sentir prazer mas estava assustado, ela arranhava mais forte e então tentei dar um gemido, mas soou estranho. Logo após ela me deu um tapa na cara.
"Você gosta de sexo selvagem, não é?"
Ela parou de fazer o que estava fazendo e de repente retomou, com violência. Ela conseguiu arrancar sangue do meu nariz e aí tive certeza de que as coisas não estavam normais. Sua pele era fria.
"Você não se lembra de mim? Eu sei de tudo sobre você, porque você foi o meu primeiro amor... Você não lembra, Juan? Quando tirou minha virgindade e saiu falando para todos da escola que ficou com a nerd esquisita e que era até "gostosinha"? Não se lembra?"
Naquele momento em meio à tapas e arranhões, pude lembrar de Marie, tínhamos uns 17 anos, quando me fiz primeiro homem de sua vida. Ela era loucamente apaixonada e eu tinha vergonha dos outros me verem com ela. No meio de seus seios tinha uma pinta média inconfundível que pude avistar e lembrar.
Fiquei desesperado e quando me levantei, ela disparou:
"Aquela menina na foto é sua filha, primeiro homem que tive me engravidou, não tive coragem de ir atrás dele porque ele tinha vergonha de mim, acha isso justo?"
Eu tremia como uma criança vendo filme de terror.
"Cadê a menina?"
Ela gritou:
"Você não vai dar uma de pai agora!"
Então pedi desculpas, estava realmente arrependido e assustado pela forma que Marie resolveu me mostrar sua angústia e lembrar o passado.
Prometi pensão e tudo que me veio à cabeça. Ela me expulsou de sua casa com xingamentos ofensivos. Mas depois, abaixou o tom de voz espantosamente e disse para mim agir direito e cuidar da minha família.
Quando entrei no carro, desabei em prantos.
"Como fui nojento! Como pude fazer isso com uma mulher? Não mereço Vanessa, não mereço Marie, não mereço ninguém!"
De repente, uma menina bate no vidro do carro, reclamando pelo carro estar na frente de sua garagem. Vi que era a menina da foto na mesma hora, era minha filha. Ela era linda.
"Senhor, tem como você tirar seu carro? Tô cansada, acabei de chegar do trabalho."
Saí do possível transe.
"Ah, ok. Me desculpe, estava conversando com sua mãe, foi um prazer conhecer a sua casa, qual é seu no..."
"Senhor, vai embora daqui agora e pare de me zombar! Minha mãe é falecida faz dois anos! Vai embora daqui!"
O carro morreu na primeira tentativa de ligá-lo, o desespero subiu a cabeça. Fui embora como se tivesse fugindo de um monstro.
Mas na verdade o monstro era eu. Causei tristeza em corações que batem e que já deixaram de bater, doeu.
Não procurei por minha filha novamente, mas procurei vê-la alguns dias, escondido. Desde esse dia, me tornei um bom marido e um bom pai, seguindo os conselhos de Marie.
Mas, sinceramente, não sei se me resistiria à futuras tentações.
Meu nome é Juan e sou uma praga. Uma praga, que ganhou uma segunda chance.
Será que mereço perdão? Será que devem confiar em mim?
Obs.: Texto fictício.
- Juliane França.

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