Nunca Fui Romântica




Nunca fui romântica e isso não é uma vantagem.
Na época de escola, enquanto as meninas ficavam atrás dos rapazes mais populares, eu ficava de canto, revisando a matéria de história ou vendo alguns filmes e documentários (sobre animais terrestres na maioria das vezes).
Os anos se passaram e com 19 anos conheci Richard, por amigas em comum. Ele era o amor e a 'melação' em forma humana. Me aproximei dele quando descobri que ele era biólogo, ele era 10 anos mais velho, tinha sobrancelhas falhadas e bonitinhas.
Com algumas conversas, pude me sentir num palco imaginário. Ele me tratava como uma verdadeira celebridade. Eu nunca liguei pra isso e minha indiferença exalava, mas apesar da indiferença, iniciamos um relacionamento. Decidi tentar, já que os gostos dele se pareciam com os meus.
Todos os dias Richard me buscava no trabalho, ele ia da faculdade para lá e ainda dava um jeito de me levar um bombom diferente à cada dia.
No meu aniversário de 20 anos, ele me levou um agrado diferente, um cãozinho lindo que, ironicamente nomeei de "Bombom" (ele está aqui na minha frente, dormindo rsrs).
Fiquei muito feliz quando ganhei Bombom, mas nada que me fizesse agir como aquelas moças de filmes que pulam no colo dos rapazes quando recebem buquês de flores.
As declarações dele eram respondidas por mim com palavras secas e padronizadas como: "Que fofo, obrigada". Aposto que ele já havia decorado o meu retorno.
Nunca fiz questão de passar os finais de semana com ele, ficaria em casa tranquilamente se ele não chamasse, mas ele sempre chamava e apesar de ir algumas vezes, recusei a maioria dos convites.
Mas chegou um tempo em que eu gostaria de me importar mais e tentar ser mais feliz com Richard, eu quis sentir o amor e o afeto na pele, quis entender o brilho nos olhos dele quando eu abria minha porta, o olhava sem expressão, com os cabelos bagunçados e vestindo alguma roupa velha. "Pode entrar".
Ele ignorava meu desânimo e sempre abria um sorriso largo, me abraçava com delicadeza e saudade, e dedicava seu dia inteiro à mim. Eu jamais o tratei mal, mas jamais o retribui o suficiente.
Com um tempo, as mensagens dele pararam de chegar, ao sair do trabalho ele não mais estava lá e Bombom chorava nas noites que ele estaria em minha casa e não mais estava.
Passaram-se uns dois meses quando procurei por ele nas redes sociais, vi que ele já não era mais meu namorado. Haviam fotos onde ele estava com uma mulher, de mãos dadas. A mulher era linda, sorridente e parecia feliz. Toda expressão facial que eu nunca tive, ela tinha. 
Foi aí que percebi a felicidade tamanha que simplesmente joguei fora, a preguiça de retribuir afeto que me privou do amor.
Eu poderia ligar e xingar, já que Richard não me avisou nada antes de sumir e aparecer com outra, mas apesar do vazio diferente, deixei apenas uma mensagem:
"Eu sinto muito pela namorada ausente que teve e lhe desejo toda a felicidade do mundo com sua nova namorada. Desejo que ela sorria e pule em seu colo quando te ver e aceite todos os seus convites. Desejo-lhe uma namorada de verdade. Beijos."
Ele respondeu após três minutos.
"Obrigado, beijos."
Ele jamais me respondeu seco como naquela mensagem e aquela mensagem foi a última que ele me mandou.
Uma lágrima caiu e senti o desespero de não causar absolutamente nada em alguém que daria tudo por mim antes, senti o desespero que Richard provavelmente sentiu namorando comigo, imaginei suas lutas diárias para me agradar.
Aprendi não mais desfazer de ninguém. Aprendi ficar quieta no meu canto assistindo filmes com Bombom e esperar o destino decidir me mostrar o amor outro dia, e que da próxima vez eu pudesse senti-lo, como qualquer garota normal.
Obs.: Texto fictício.
- Juliane França

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