Pedófilo e Inocente

Meu maior sonho era servir ao Exército

Enquanto meus amigos selecionaram algumas desculpas para não servirem, eu cheguei a rezar para ser aceito. Não fui, por ter bronquite. Mas tudo bem, venci no amor!

A menina mais linda da escola se tornou minha esposa. Ela me deu de presente a filha mais linda do mundo. Aquele era um dia atípico, finalmente tive um tempo para ir buscá-la na escola. No caminho, um homem moreno e sem camisa me chamou para ajudá-lo com um problema dentro do carro. Entrei no carro para detectar o problema e quando olhei para fora, vi que o carro estava andando, melhor, correndo.

"Qual é, cara. Tá me levando pra onde?"
"Cala o bico, porra!"
Ele era muito discreto. Enquanto eu gritava, ele cochichava. As portas estavam travadas.

"Desgracado! Se você quiser dinheiro eu posso..."
Ele se virou e me fez desmaiar com um forte soco no nariz.

Acordei e percebi que estávamos numa rua sem saída, ele estava totalmente nu, por cima da melhor amiga da minha filha. A garota tinha a idade da minha filha e usava uma tiara da minha filha. Ágata, de 12 anos, acabara de ser violada por um lixo de aproximadamente 43 anos.

Dei o maior impulso de toda a minha vida para matá-lo com minhas próprias mãos, mas ele me prendeu com cordas e me enfiou um pano na boca. Eu não podia gritar a cada gota de sangue que escorria pelo vestido de Ágata, mas as lágrimas gritavam mais que minha própria voz. Ágata olhava para mim com desespero e me senti inútil por não ter forças para fazer nada.

Felizmente um Uber havia deixado um casal na rua e passou com o carro ao lado da gente. Provavelmente foi atraído pelos movimentos do carro, olhou mais atentamente e viu que no banco de trás, um homem estuprava uma criança. No mesmo minuto, o rapaz saiu cantando pneu, buzinando para chamar a atenção de todos.
O pedaço de merda vestiu as calças, me desamarrou, arrancou minha camisa e passou o dedo ensanguentado na minha boca.

Não deu tempo de limpar. Em questão de segundos, um grupo de pessoas correu até o carro, cheios de ódio. Arrancaram Ágata de lá e como o previsível e planejado, encontraram "dois" estupradores pedófilos.

Quebraram os vidros do carro com pedaços de pau e nos arrancaram de lá. As pancadas não doíam tanto quanto pensar no destino amargo que eu teria. Me tornei pedófilo por estar no lugar errado e na hora errada.

"Eu fui sequestrado!"
"Eu não toquei na criança, ela é amiga da minha filha, não é, Ágata? Ela vai em casa quase todos os dias para brincar com a Bianca minha filha!"
Ninguém me escutava e, com pouco tempo, minha boca estava inchada demais para dizer qualquer coisa.

Ninguém apareceu para me defender. Fotos de nós dois rodaram internacionalmente pelas redes sociais.
"Dois pedófilos flagrados estuprando criança de 12 anos."
"Pedófilos com menina de 12 anos em rua sem saída."

Fui preso por pedofilia.
Meu advogado conseguiu, por alguns dias, discutir sobre não haver meu esperma na menina, mas negaram explicações. Eu estava suado, sem camisa e o sangue na minha boca indicava sexo oral na criança. Na semana seguinte, meus colegas de cela começaram a me estuprar.

Hoje, um cabo de vassoura foi inserido em meu ânus e eu desejei morrer, mas não morri, pois eles querem que eu morra devagar.

O lixo que me sequestrou morreu pela manhã. A partir daí, eu passei a carregar, sozinho, o ódio de milhares de pessoas.
Minha esposa não apareceu. Será que ela acredita em mim? Será que também está sendo acusada de pedofilia? Será que nossa filha ainda está com ela?
Quem me defender, estará acobertando. Eu entendo.

A sociedade não ouve a voz de ninguém e grita com um ódio fervente que "bandido bom é bandido morto". Principalmente um bandido que abusa de crianças, o pior dos bandidos.

Com o espírito vencido e o corpo físico rasgado, quero morrer. Queria me despedir da minha filha. Queria pedir mil perdões à Ágata.

Queria ter a chance de provar quem realmente sou, mas enquanto tento pensar numa maneira de sair daqui, um detento vem em minha direção, com uma peruca, abrindo o zíper e me fazendo desistir de todas as esperanças.

- Juliane França

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