Anja da Morte

Saí com uma prostituta soropositiva

Quando paguei aquela anja da morte para sair comigo, estava decidido em me matar. Minha vida girava em torno de bares e puteiros sujos e escuros. Sabe, por mais que seja estranho, aquela sujeira e aquele cheiro de drogas e sexo me deixaram em êxtase. Aquele ambiente era minha verdadeira casa.

Apesar de ser um homem bem sucedido, o dinheiro jamais conseguiu anestesiar a dor da solidão. Já havia cansado de pessoas que se aproximavam de mim só por meu dinheiro.

Voltando para a anja, ela era negra, os seios eram pequenos e as coxas enormes, haviam estrias mais escuras no abdômen e uma tatuagem com o nome "Raquel", voz suave e convidativa. Me cobrou $3 para desfrutar de todo o seu corpo doente.

Optei por não usar preservativo e ela logo renunciou, entramos em uma breve discussão e no momento de nervosismo, revelei minhas verdadeiras intenções.

"Não vou lhe passar doença nenhuma, não estou aqui para isso. Me assumi como tal para mostrar aos clientes que é possível uma relação segura com uma pessoa como eu, moço. Essa se tornou minha missão depois que minha filha se suicidou depois de descobrir que também era soropositiva.
Às vezes, a gente fica perdido nessas esquinas fedidas. Então temos as alternativas: ou a gente tenta limpar o caminho por onde pisamos, ou mudamos de esquina. Só que deixar de caminhar antes da hora, vai atrofiar sua alma, moço. Depois disso, não há mais alternativas."

Aquela mulher me fez repensar sobre os motivos pelos quais me levaram até lá. A solidão, o comodismo e o preconceito. Eu jamais estaria com aquela mulher se eu não quisesse morrer. Em meu estado normal, aquela mulher seria o motivo pelo qual eu mudaria de calçada, mas depois que a conheci, se tornou uma ótima amiga. Vale a pena todas as conversas e todas as histórias.

Hoje a chamo de "anja da vida".

- Juliane França.