Mais um dia Comum no Onibus




Hoje estou linda!  Hoje resolvi colocar um batom mais forte, matte, de cor vermelho (ual! Gostei da valorizada que ele deu nos meus lábios!). Coloquei também um cropped e um shortinho jeans. Soltei os cabelos pretos que vão até a cintura, espirrei no pescoço meu delicioso perfume de romã e botei uma sandalinha discreta (quase esqueci da bolsa).  Eita, prontinho! Hora de ir ao centro da cidade!   Não é falando não, mas estou linda hoje! Saio na rua e os meninos me dão todo tipo de elogio, dos mais leves aos mais pornográficos. Tem menino que é assim mesmo, basta ver um rabo de saia e parece besta, perdem a tal da ética. Finjo que não escuto. Mulheres também olham. Algumas olham de canto, outras encaram e medem da cabeça aos pés. Povo gosta de reparar, mas nem ligo! Cidade grande, calor da peste, pego o ônibus lotado e fico em pé. Quase não tem lugar para segurar e pra "melhorar" tudo, tem um sujeito estranho atrás de mim. Ele tem os cabelos grisalhos, é bem alto e bem magro. Ele começa cochichar. Não sei se está falando comigo, ignoro. Aproxima-se cada vez mais de meu corpo, ele tem uns centímetros para manter distância, mas está com maldade, fico envergonhada e sem saber o que fazer. Em um certo momento se aproxima demais, dou uma cotovelada e ele pega em meus braços com força: — Você com essa roupa tá querendo o que, fia? Solto-me, indignada:  Quero respeito. Pelo meu tom de voz, as pessoas percebem o que está acontecendo e, um simpático moço cujo rosto não fiz questão de ver, expulsou ele do ônibus com pontapés e palavrões. As lágrimas escorrem involuntariamente, deixo passar uns quatro pontos e desço. Desisto, não quero mais ir ao centro da cidade. Vou pra casa.  "Você com essa roupa tá querendo o que, fia?" Eu tenho certeza que essa será sempre a pergunta mais escrota que respondi na vida. 
Talvez eu só quisesse me sentir bonita, me sentir bem com as vestimentas que melhor me caiam, talvez eu só quisesse viver como acho melhor, talvez eu só quisesse a liberdade de ir e vir sem desrespeitos e humilhações... Talvez eu só quisesse ir no centro ao cidade. 

- Juliane França.

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