Se eu vou ver o meu pai?

Não. Eu não vou visitar o meu pai no Natal, tampouco desejar os parabéns por seu 74° aniversário, mesmo que eu seja a única das cinco filhas que sabe bem do que ele gosta de ganhar. Ele é viciado em perfumes leves, eu até teria uma boa sugestão de perfume para lhe dar, mas prefiro ficar aqui e simplesmente fingir que ele não existe mais.

Eu fui a primeira pessoa a quem ele recorreu quando teve de ir ao médico para cuidar do coração, mas a primeira palavra que me veio a cabeça foi o "não" no mais absoluto e firme tom.
Todos da família estão me criticando e dizendo que sou uma filha horrível. Talvez eu seja mesmo, mas não ligo.

Aquele cheiro dele me enjoa e me faz lembrar de quando eu tinha dezesseis anos, quando ele me abraçou e eu contei que havia me apaixonado pela primeira vez... Ele simplesmente quebrou um de meus dentes com um soco.

Depois que a mamãe faleceu e minhas irmãs mais velhas saíram de casa, ele me forçou a ser adulta antes do tempo.
Em todos os meus vinte e cinco aniversários, ele não abriu a boca para me parabenizar e, quando uma amiga me chamava em casa, ele dizia para que eu não colocasse as meninas no mal caminho. Sim, eu era a safada, a ruim, a má influência da família.

Meu pai não me dava dinheiro, ele jogava cédulas em cima de mim, como aqueles velhos nojentos pagam as strippers nas boates. Mas com o tempo, ele parou de jogar dinheiro e então tive que lutar para ser o contrário de tudo aquilo que ele dizia que eu era.

Ele achou que jamais precisaria de mim, mas hoje precisa.
E não é vingança, é amor próprio, aquele mesmo amor próprio que fui forçada a ter quando ninguém tinha amor por mim.
Tenho saudades da minha mãe... Tenho saudades do pai que eu não tive.

- Juliane França.

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