Meu Vestido de Noiva

Ele era definitivamente minha metade de voz grossa e barba. Brincávamos de "o que é o que é" deitados na cama, olhando para o teto e falando coisas sem sentido, as quais rendiam risadas boas e bobas.
Ninguém podia contra a gente, éramos nós contra todo tipo de banalidade do mundo.

Foi no dia em que fui escolher meu vestido de noiva, que a amiga que escolhi para me acompanhar, decidiu me dizer que ele não era real.
Fechei a cara e chegamos à uma discussão amarga, até que ela se calou e me mostrou um print no celular dela. Era ele mesmo, dando ideia numa colega da gente.
A menina até que estava gostando, mas não consegui sentir um pingo de raiva dela.

Ficamos ali, caladas. Eu com aquele vestido já comprado nas mãos, usando ainda uma coroa que usei para complementar. Joguei a coroa longe, mas fui correndo pegar, me desculpando com a dona da loja.

Não tive sequer reação de tristeza, o choro foi por dentro e posso dizer que esse é o pior choro de todos, o mais dolorido. Minha amiga não sabia o que fazer, aposto que jamais tenha me visto daquele jeito.

O vestido estava pouco à mostra mesmo embrulhado, fiquei na dúvida sobre levar ou não até minha casa. Optei por não levar, o joguei na rua, na frente de todos. Todos olharam e alguns até entortaram seus pescoços para olhar novamente.
Seguimos em frente à caminho para casa, minha amiga com suas mãos leves e acolhedoras em minhas costas... Até chegar um rapaz de sorriso fácil, com o vestido nas mãos.
"Esse vestido não é tão bonito assim, mas use! Vai servir para que eu tenha uma noção de como você vai ficar no nosso dia!"
Assim mesmo, sem vergonha e sem gaguejar.
Juro que não sou de cair em cantadas, mas essa cantada nos rende até hoje, momentos impecáveis. O que fez o pior dia da minha vida tornar-se o melhor... O dia em que conheci minha verdadeira metade.

(Fictício)

- Juliane França.