"Papai e Mamãe" Terças e Quintas

Durava mais ou menos cinco minutos, eu não sentia mais nada de prazeroso. Meu marido sempre suspirava da mesma forma padronizada dos outros dias. Eu sabia exatamente quando ele iria chegar ao orgasmo, mas aquilo não era bom. Aquilo era a rotina pesada nos afogando. 
Todo domingo, comíamos pastel de feira, sabor carne e caldo de cana com limão.  Aquilo estava me consumindo, me desgastando e me corroendo. Mas para meu marido estava tudo bem. Era visível em seu rosto que a rotina tinha uma relação saudável com ele. Com ele, mas não comigo. 
Decidi iniciar um curso de confeitaria, gratuito, disponibilizado pelo governo. Seria um bom refúgio de minhas residenciais paredes vermelhas e da mesa caindo aos pedaços de minha sala, no trabalho. 
Meu marido me apoiou, como sempre. Ele era passivo e emotivo, como eu sou, pouco antes de menstruar.  O curso aconteceu numa sala de aula improvisada. De imediato, não haviam nada de dinâmicas ou colocar a mão na massa. A professora falava demais, dava sono na gente. Eram textos, anotações, provas teóricas e vídeos sonolentos. 
No terceiro dia de curso, meus olhos se abriram com mais atenção quando um rapaz de dreads e pássaros tatuados no braço entrou na sala. Ele era exótico, a voz não era fina e nem grossa, era no tom certo. 
Ele se sentou atrás de mim e próximo da hora de irmos embora, percebi que ele estava enrolando meus cabelos em seus dedos, também tatuados e de unhas minúsculas.  Olhei para trás e ele sorriu como que com maldade. O sorriso dele era uma perdição. Ele deveria ter uns dez anos a menos que eu. 
"Que curso chato, né?"  disse ele, ainda com o sorriso no rosto.  Balancei a cabeça que sim. Então ele me chamou para conversar após a aula.  Por algum momento desconhecido na hora, aceitei. Talvez eu estivesse sentindo uma falta desesperada de conhecer alguém novo.  Ficamos jogando conversa fora. Descobri que ele não entendia nada de confeitaria, mas entendia de toques.  Aos poucos as mãos dele foram parar em meus joelhos. Confesso que quis que ele subisse. Mas ele me deixou na vontade. Me chamou para matarmos o próximo dia de aula e irmos para outro lugar, assim mesmo como adolescentes com hormônios borbulhando.  Ao chegar em casa, me senti culpada. Mas quando meu marido me sentou na cama afundada e me beijou levemente, a culpa foi embora. Friamente, estava cansada da mesmice. 
Eu iria trair meu marido. Algo lá no fundo dizia que não, mas algo muito maior gritava pelo sim.  Ele me buscou de carro, em frente à escola. Fomos para um motel muito luxuoso. Onde ele me beijou toda, no chão mesmo, onde eu jamais havia sido beijada. Depois me colocou em cima da mesa e em seguida na pia. Ele me dava tapas excitantes os quais me surpreenderam... Jamais imaginei que sentiria prazer com dor. Mas senti. Esqueci do mundo, esqueci de tudo. 
Quando cheguei em casa, meu marido estava dormindo e eu tomei mais um banho, com medo de estar com certo cheiro. Ao sair do banheiro, ele acordou e disse que me amava. Eu o beijei e deitei. 
Estava louca para o próximo amanhecer, precisava ter aquele homem novamente.  Ele sempre era um dos últimos a chegar. Mas daquela vez ele não apareceu. 
Além disso, ouvi alguns cochichos com meu nome.  Uma menina passou por mim e disse: "safada".  Pronto. Já estava explícito que ele havia dito aos colegas do curso que me levou para a cama.  Peguei minha bolsa e imediatamente liguei para ele. Ele atendeu, como se nada houvesse acontecido. 
"Oi, minha senhora! Você achava o quê? Que eu iria ficar com você sempre? Que sua aliança enroscando nos meus dreads não me fariam sentir nojo de você? Minha senhora, você sempre tem o mesmo cheiro de gordura de bife, as unhas sempre sem esmaltes, o batom sempre rosa e o mesmo penteado de cabelo. Rotina cansa, sabia? Volta pro seu marido que, deveria ter escolhido melhor." 
Desliguei o telefone na cara dele e nunca mais nos falamos. Chorando, pensei numa forma da notícia não chegar ao meu marido. Felizmente, nunca chegou... Mas como aquele idiota disse, meu marido deveria ter escolhido melhor, porém, não há nada que posso fazer agora. Estou grávida e, nem sei quem é o pai.  Ele apareceu no caminho para o curso há alguns dias atrás, com uma menina com idade para ser minha filha. Só que jamais tive coragem de falar nada com ele. 
- Juliane França.

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