Carta de Filha Prostituta
Não tenho ideia de como começar esta carta, mas acredito que dizer que não te esqueci e que te amo, seja um bom começo.
Você me ensinou a nunca mentir, assim fiz e farei, serei verdadeira até a última letra.
Sei que deve estar com ódio de mim, não tiro sua razão de jeito nenhum. Desconheço minhas emoções caso minha filha tivesse a mesma atitude que eu, por exemplo, mas mãe... Continuo sendo sua filha.
O Zé aí da vila, me encontrou esses dias e disse que você estava me procurando. Escrevo para informar que estou bem, que talvez não seja bom me achar agora.
O mundo da prostituição é severo, sem cor e imundo. Tive a maior decepção da minha vida, quando antes pensei que fosse uma forma fácil de adquirir renda pra gente. Naquele dia, quando cheguei em casa e você me deu aquele soco na cara, fiquei mal e virei as costas, decidida a nunca mais virar o rosto de volta para ver você. Com três dias, vi que fiz a escolha certa, mas não por rancor, e sim por querer uma melhor experiência de vida para você. Fiz a escolha certa por não querer que você olhe para o rosto da sua filha prostituta, que dorme com mais de dez pessoas por dia, homens e mulheres que me tratam como brinquedo sexual e depois me descartam.
Desculpa, mãe. Poderia insistir na procura por um emprego menos difícil, que não a envergonhasse.
As pessoas aqui parecem não ter alma, boa parte do dinheiro uso para "anestesiar-me" para o próximo programa. É um buraco fundo e a escada ainda não apareceu. Mas prometo que vou sair dessa.
Por favor, não me procure agora. Prometo que algum dia desses, vou reaparecer, recuperada, linda e com novas condições pra gente.
Te amo pra sempre, você sempre será meu exemplo de mulher.
Com muito amor,
Sua filha, Elisa.
- Juliane França
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